SANEAMENTO : " Fraternidade Básica "

O foco da Campanha da Fraternidade de 2016 é o SANEAMENTO BÁSICO no Brasil, tendo como tema “Casa Comum, nossa responsabilidade”. A finalidade do evento, coordenado pelo CONIC, é chamar a atenção para a questão do direito ao saneamento básico para todas as pessoas, estimulando ações ecoeficientes políticas públicas que garantam a integridade e o futuro do planeta Terra, ou seja, a Casa Comum.

Não sou especialista, mas como militante na causa ambiental, especialmente das águas, entendo a grande e urgente necessidade de se aprofundar no assunto e de fazer o que precisa ser feito. 

Mas, o que é mesmo o SANEAMENTO BÁSICO ? 
São medidas que permitem preservar ou modificar as condições do meio ambiente tendo como finalidade a melhoria a qualidade de vida da população, alinhando produtividade e sustentabilidade. O saneamento básico está especificamente ligado ao conjunto de serviços, infraestrutura e instalações operacionais que envolem quatro aspectos:  - abastecimento de água potável;   - esgotamento sanitário;   - limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos;   - drenagem e manejo das águas de chuva.

Entre os procedimentos do saneamento estão o tratamento de água, canalização e tratamento de esgotos, limpeza pública de ruas e avenidas, coleta e tratamento de resíduos orgânicos (em aterros sanitários regularizados) e materiais (através da reciclagem), o controle de pragas e qualquer tipo de agente patogênico. Com essas medidas, é possível se garantir melhores condições de vida para a população, evitando a contaminação e proliferação de doenças e, ao mesmo tempo, contribui-se para a preservação ambiental. Esses serviços podem ser prestados por empresas públicas ou, em regime de concessão, por empresas privadas, sendo esses considerados serviços essenciais.

É importante salientar que a ONU reconhece o saneamento básico como direito humano e, no Brasil, é um direito assegurado pela Constituição e definido pela Lei nº 11.445/2007 que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e definiu uma Política Federal de Saneamento Básico. Apesar de ser um assunto recorrente, pelo menos desde o início dos anos 70 com o lançamento do Plano Nacional de Saneamento (Planasa), só a partir de 2003 o país passou a abordar o assunto de forma mais efetiva com a criação da Secretaria Nacional de Saneamento Básico. Em 2009 e 2010 foram definidos o Plano Federal de Saneamento Básico e a regulamentação da Lei do Saneamento.

Segundo o Ministério das Cidades (SNIS 2013) mais da metade da população brasileira ainda não possui acesso às redes de coleta de esgotos e somente 39% dos esgotos do país são tratados. Cerca de 35 milhões de brasileiros ainda não possuem água tratada e temos mais de 5 milhões de pessoas sem acesso a banheiros. 37% da água potável é perdida em vazamentos, “gatos” ou problemas de medição.  A pontuação do Brasil no Índice de Desenvolvimento do Saneamento foi de 0,581 em 2011, um índice menor que alguns países do Norte da África e Oriente Médio.

Em Minas Gerais, há pelo menos meio século, muitos mineiros ouvem promessas de terem, algum dia, redes de água tratada e de esgoto em suas residências. Em 1963 uma lei estadual criou a Companhia Mineira de Água e Esgoto (Comag) para definir e executar uma política ampla de saneamento básico no Estado. Em 1974, a Comag foi transformada na Copasa. Somente em 1994 foi aprofundada a Política Estadual de Saneamento Básico definida pela Lei 11.720. Mais recentemente, o Decreto 46.775/2015 criou um grupo intergovernamental para elaboração do Plano Estadual de Saneamento (PESB) que é coordenado pela SEDRU (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, Política Urbana e Gestão Metropolitana) envolvendo a COPASA, IGAM, FEAM, SEPLAG, SEMAD, FJP e ARSAE.

PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PMSB)
Para alcançar a efetividade em qualquer ação é fundamental um bom planejamento. E está exatamente aí o principal motivo de não existir avanços quanto ao saneamento básico na grande maioria dos municípios brasileiros. Em Minas Gerais, por exemplo, apenas 10% dos municípios têm o plano de saneamento que é essencial para a obtenção de recursos para a execução das obras e de outros projetos.  Muitos municípios não têm o recurso necessário para contratar empresas especializadas em elaboração desses planos.

Porém, nesse aspecto, o município de Mutum já está bem adiantado no processo de elaboração desse relevante documento, graças ao empenho do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH Doce) que determinou o uso prioritário de recursos do Plano de Aplicação Plurianual (PAP) através do Programa P41 que trata da universalização do saneamento básico. A propositura da CF 2016 quanto a criação do Plano está praticamente realizada, restando colocá-lo em prática.  

Com essa promissora iniciativa do CBH Doce (www.cbhdoce.org.br), do qual Mutum faz parte integrando o subcomitê do Rio Manhuaçu, vários municípios da região estão desenvolvendo seus planos que permitirão, ao longo dos próximos anos, a captação de recursos e a execução das necessárias e tão sonhadas obras que levarão ao básico do saneamento.

A implementação do Programa P41 teve início em 2013. Durante o ano de 2014 foram efetivados os convênios, as licitações, contratos etc. A elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico de Mutum teve início em maio de 2015 e já se encontra em fase de conclusão. A empresa paulista SHS Engenharia foi a contratada para dar suporte nos trabalhos de construção do Plano que são coordenados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMADES), monitorados por dois comitês, um de coordenação e outro de execução, por um grupo de comunicação, por delegados dos distritos, pelo CODEMA (Conselho Municipal e Defesa e Conservação do Meio Ambiente) e acompanhados por consultores do CBH Manhuaçu (www.cbhmanhuacu.org.br) e da IBIO-Agb Doce (www.ibioagbdoce.org.br).

De certa forma, o município de Mutum ganhou de presente do CBH esse imprescindível Plano cujo valor se aproxima de 300 mil reais que estão sendo investidos no seu processo de elaboração. A construção do PMSB conta com a participação de vários segmentos sociais e principalmente da população em geral, através de entrevistas, questionários e especialmente com oficinas e audiências públicas realizadas tanto na sede quanto nos distritos e zona rural.  

Três mutuenses representam o município no CBH Manhuaçu, o presidente da ACE&CDL de Mutum, Karone Marllus Rocha de Oliveira (Sociedade Civil), o secretário municipal de meio ambiente Genilson Tadeu da Silva (Poder Público Municipal) e o Cb Samuel Celos (Poder Público Estadual – Polícia Militar de Meio Ambiente). Karone e Tadeu também fazem parte do Grupo Gênesis que se dedica há vários anos em projetos e ações voltadas para a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.

O PMSB deve ser aprovado em audiência pública na Câmara Municipal que está prevista para ser realizada no mês de abril de 2016 e se transformará em LEI que tem como objetivos primordiais: - captar recursos; - fazer com que os recursos públicos sejam aplicados corretamente; - Manter os serviços de saneamento funcionando com qualidade; - promover a qualidade de vida das pessoas respeitando o meio ambiente. O Plano prevê ações imediatas, de curto, médio e longo prazos de acordo com a hierarquia de prioridades apontadas pela população e verificados pela equipe técnica. Portanto, é muito importante que as pessoas interessadas e envolvidas acompanhem todas as etapas de elaboração do Plano e, depois de concluído e aprovado, que todos cobrem e contribuam para a efetiva aplicação de suas proposições que são de suma importância para o bem de toda a comunidade.

MOMENTO OPORTUNO
Esses dois fatos - a Campanha da Fraternidade e o andamento da elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico - proporcionam uma grande oportunidade para debater melhor e vislumbrar um cenário favorável para, enfim, ocorrer a implantação definitiva do Saneamento Básico em Mutum e na região.

E o crescimento do município, a falta de políticas públicas em todas as esferas de governo, os novos hábitos de consumo e a falta de consciência de muitas pessoas, entre outros fatores, têm causado numerosos e grandes transtornos. Ora acontecem longos períodos de estiagem, ora ocorrem enchentes, alagamentos e deslizamentos. Vimos, por exemplo, o nosso Rio Mutum “morrer” no final do ano passado. O local de captação de água para abastecimento humano na sede do município é inadequado e a água nos cinco Distritos também não é boa. Não há tratamento do esgoto e tudo é jogado nos rios e córregos, além dos agrotóxicos, animais mortos etc. É muito grande o volume de lixo e de outros resíduos gerados e o aterro já não atende a demanda do município, pois não existe coleta seletiva, reciclagem etc. O surto de dengue e a ocorrência de outras doenças também são consequências dessa triste realidade.

O Saneamento Básico envolve todos esses problemas e por não serem abordados da forma apropriada vêm ocasionando outros transtornos graves, comprometendo a saúde e a qualidade de vida das pessoas, além da degradação dos recursos naturais. Por isso, o saneamento básico é um critério decisivo na definição do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que vai de 0 a 1. O IDH de Mutum (SEBRAE 2010) é 0,644, considerado médio desenvolvimento humano, sendo o 582.º do Estado e o 3228.º do Brasil.  

Diante da situação alarmante na qual chegamos, fica evidente que essas questões deveriam ter sito tratadas com maior seriedade há muito tempo. Mas, como afirmei anteriormente, é necessário e urgente fazer o que precisa ser feito. Agora, é hora de toda a sociedade unir esforços para tomar as medidas devidas para universalizar o saneamento, cuidando do meio ambiente e garantindo para todas as pessoas uma vida digna.

Abraço e bom trabalho para todos !

Karone Marllus Rocha de Oliveira. Integrante do Comitê de Coordenação do Plano Municipal de Saneamento Básico de Mutum e do CODEMAMembro fundador do Grupo Gênesis; Membro desde 2013 e ex-secretário executivo do CBH Manhuaçu no qual é representante da sociedade civil por meio da ACE&CDL de Mutum; Representante da ADESC-Agência de Desenvolvimento Econômico e Social do Caparaó. 

“Deus que fizestes com ternura o nosso planeta, morada de todas as espécies e povos, dai-nos assumir, na força da fé e em irmandade, a corresponsabilidade na construção de um mundo sustentável e justo, para todos.”
(Trecho da oração da CFE 2016)